Vamos falar aqui sobre a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), que é a disfunção hormonal mais comum nas mulheres em idade reprodutiva. Além de entender o que é e quais são os sintomas, você vai receber algumas orientações em relação ao tratamento.
Trata-se de uma condição com sinais e sintomas diversos, como: ciclos menstruais longos, irregulares, excesso de pelos no corpo e/ou face, alterações na pele (como aumento oleosidade e acne), infertilidade, obesidade, dentre outros.
É um assunto muito importante, tanto para as mulheres que desejam engravidar, quanto para as que ainda não pensaram nisso, já que podem cursar com graves consequências, piorando a qualidade de vida das mulheres.
O diagnóstico precoce e o tratamento da Síndrome dos Ovários Policísticos podem ajudar a reduzir o risco de complicações. Então, leia esse artigo com atenção.
O que é SOP – Síndrome dos Ovários Policísticos?
A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é um distúrbio hormonal que afeta as mulheres em idade fértil e pode interferir na frequência da ovulação. Por isso, um dos principais sintomas é o ciclo menstrual irregular, mais longo, ou mesmo a ausência da menstruação por seis meses ou mais, conhecida como amenorreia.
Também conhecida como Síndrome de Stein-Leventhal ou Síndrome da Anovulação Hiperandrogênica, ela afeta de 6 a 19% das mulheres em idade reprodutiva e pode ser identificada em cerca de 30% das pacientes com infertilidade, sendo a síndrome endócrina (hormonal) mais comum nas mulheres em idade fértil.
Além disso, pode ser identificada em cerca de 80% dos casos de hiperandrogenismo em mulheres, ou seja, elevação dos hormônios masculinos, podendo levar a alterações como aumento de pelos faciais e/ou corpóreos, acne ou queda de cabelos.
O óvulo é formado a partir do desenvolvimento de folículos nos ovários, que ocorre uma vez a cada ciclo menstrual, resultando no processo conhecido como ovulação. Se a paciente não ovula, ou seja, se o óvulo não é liberado nas tubas uterinas, os folículos vão ficar “presos” nos ovários.
Nesse caso, se realizar uma ultrassonografia para ver os ovários, poderá haver um aspecto de um ovário cheio de cistos, mas na verdade não são cistos, são folículos não ovulados. Assim, em algumas pacientes com SOP, poderá ser observado ovários aumentados de volume ou com múltiplos pequenos folículos detectados à ultrassonografia, conhecido como ovários policísticos.
Quais são as causas da SOP?
A causa exata da Síndrome dos Ovários Policísticos permanece desconhecida. Alguns estudos apontam que a SOP seja consequência de fatores genéticos e ambientais.
Sobre os fatores genéticos, foi observado que a SOP é mais comum em mulheres da mesma família. Quando uma mulher apresenta SOP, a probabilidade da filha ter o mesmo problema de saúde pode chegar a 50%.
A obesidade também é um fator importante, a maioria das pacientes com SOP são obesas. E a obesidade pode causar uma elevação nos níveis de insulina (hormônio responsável pela redução das taxas de glicose no sangue), além de aumentar a produção de hormônios masculinos pela conversão periférica do tecido adiposo. No entanto, mulheres magras também podem apresentar Síndrome dos ovários policísticos.
Existem algumas outras teorias para explicar a causa da SOP, como aumento da resistência à ação da insulina. Mas, não sabemos a causa exata da Síndrome dos Ovários Policísticos.
Quais são os sintomas da SOP? Como diagnosticar?
A Síndrome dos Ovários Policísticos é uma condição com sinais e sintomas diversos. Para o diagnóstico de SOP é necessário a presença de, pelo menos, duas, das três alterações abaixo, conhecidas como os Critérios de Rotterdam:
- Menstruações infrequentes, ou seja, ciclos menstruais longos, irregulares (com mais de 38 dias de intervalo) ou amenorreia (ausência de menstruação por 6 meses ou mais).
- Aumento de hormônios masculinos, que pode ser avaliada de forma clínica ou laboratorial. Clinicamente pode apresentar aumento da quantidade de pelos em locais tipicamente masculinos, como face, costas, peito, abdome, raiz da coxa. Alterações na pele (como aumento oleosidade e acne), queda de cabelos (alopecia frontal). Algumas mulheres não tem o excesso de pelos ou outros sinais típicos de aumento dos hormônios masculinos, mas tem níveis aumentados desses hormônios masculinos na corrente sanguínea, que chamamos de hiperandrogenismo laboratorial.
- Ultrassonografia transvaginal com ovários de aspecto policístico: presença de 12 ou mais folículos pequenos no ovário (medindo entre 2 a 9 mm de diâmetro) ou volume ovariano total maior do que 10 cm³ em, pelo menos, um dos ovários.
Outros exames deverão excluir também a possibilidade de problemas endócrinos, que podem causar sintomas parecidos aos da SOP, como por exemplo, alterações nas glândulas adrenais ou tireoide, tumores ovarianos produtores de androgênio (hormônio masculino), aumento na produção de prolactina (hiperprolactinemia).
Assim, para confirmação do diagnóstico, a paciente deverá procurar ajuda médica para avaliação clínica, com exame físico e realização de exames laboratoriais ou de imagem. O diagnóstico precoce e o tratamento da síndrome dos ovários policísticos pode ajudar a reduzir o risco de complicações.
Quais as consequências da Síndrome dos Ovários Policísticos?
Estudos mostram que cerca de 60 a 70% das pacientes com SOP apresentam obesidade. Há também um maior risco de a paciente desenvolver diabetes e hipertensão arterial, bem como aumento de colesterol e triglicerídeos.
As pacientes com Síndrome dos ovários policísticos podem apresentar outras alterações como sangramento uterino anormal, apneia do sono, aumento excessivo de pelos, alterações da pele, como acne e acantose nigricans (escurecimento de regiões de dobras do corpo como pescoço, axila, virilha) que acontece devido ao excesso de insulina (hiperinsulinemia).
A SOP pode causar infertilidade, sendo a dificuldade para engravidar, uma das queixas mais frequentes dessas pacientes.
As pacientes que engravidam, apesar da SOP, possuem maior risco de desenvolverem complicações gestacionais como diabetes gestacional, doença hipertensiva específica da gestação e abortamento espontâneo.
Uma outra complicação tardia da SOP é o risco aumentado de câncer de endométrio (tecido que reveste o interior do útero). E também está associado a aumento do risco de câncer de mama e de ovário, de 2 a 3 vezes, dentre outras repercussões clínicas.
Como a SOP pode afetar a fertilidade?
Sobre a fertilidade, é importante conhecer o mecanismo da reprodução no corpo feminino para entender as consequências da Síndrome dos Ovários Policísticos. Todos os óvulos que uma mulher produzirá já estão em seus ovários, desde a fase fetal, porém não amadurecidos.
Após a puberdade, os hormônios fazem com que, normalmente, um ovócito amadureça a cada ciclo e seja liberado nas trompas (ovulação). A Síndrome dos ovários policísticos pode impedir o amadurecimento dessas células reprodutivas, resultando na ausência da ovulação (anovulação) e consequentemente à infertilidade.
Além disso, tem sido descrito também defeitos na qualidade dos ovócitos e na implantação embrionária, e maior risco de abortamento.
A mulher com SOP nem sempre é infértil. Porém, os distúrbios hormonais são comuns a esse quadro e, aliados às ovulações irregulares ou ausentes, a gravidez pode demorar ou não acontecer de maneira natural, sendo necessária a ajuda médica especializada para conseguir engravidar. Sendo assim, não há motivos para desistir do sonho da maternidade.
Uma vez diagnosticada a SOP, procure um ginecologista e obstetra de sua confiança para iniciar o melhor tratamento, dependendo do seu caso em específico. Tendo a vontade de engravidar ou não, o tratamento é inadiável, pois, além de aumentar as chances de engravidar, reduz o risco de maiores problemas futuros.
Como tratar a Síndrome dos Ovários Policísticos?
É preciso, antes de tudo, adotar uma substituição de maus hábitos de alimentação e do sedentarismo por um estilo de vida mais saudável, ou seja, dieta balanceada e prática regular de exercícios físicos.
Não há uma dieta específica para tratar SOP, a mulher deve adotar uma reeducação alimentar com foco na perda de peso, caso haja sobrepeso ou obesidade. Todas devem se alimentar de maneira saudável, reduzindo carboidratos (açúcares) e gorduras saturadas ou gorduras trans.
Perder peso é fundamental para quem está acima e todas as pacientes com SOP devem manter hábitos saudáveis, pois possuem maior predisposição para complicações como diabetes e doenças cardíacas.
Vale ressaltar que a perda de 5 a 7% do peso inicial pode promover retorno dos ciclos ovulatórios (ciclo menstrual regular), devido à redução da resistência à insulina.
Para quem não está tentando engravidar:
O tratamento adequado para a paciente que foi diagnosticada com SOP e não deseja engravidar, é voltado para a melhora dos sinais e sintomas apresentados.
Assim, após a avaliação médica inicial e realização de exames necessários, além das orientações em relação a mudança do estilo de vida, é possível realizar o tratamento com anticoncepcionais orais para regular a menstruação e melhorar o quadro de aumento de pelos e de acne.
Poderá também ser iniciado metformina para tratar resistência à insulina.
Se a queixa for aumento de pelos, poderá também ser receitado pelo médico, medicações específicas para inibir os hormônios andrógenos (hormônios masculinos) ou até mesmo tratamentos dermatológicos como o laser podem ser indicados para melhora do quadro.
E para quem está tentando engravidar:
Para as mulheres que estão tentando engravidar, a mudança no estilo de vida, como falado anteriormente, é muito importante, e a perda de peso inicial pode melhorar sintomas da SOP, com retorno dos ciclos ovulatórios.
Como tratamento para engravidar, o médico poderá prescrever medicações indutoras da ovulação, realizar o acompanhamento do crescimento dos folículos ovarianos, através de ultrassonografias transvaginais, e determinar o melhor momento para orientar a relação sexual, procedimento conhecido como coito programado ou relação sexual programada.
Poderá também ser prescritos pelo médico a metformina associado aos medicamentos indutores de ovulação, se a paciente apresentar indícios de aumento da resistência insulínica.
Outra linha de tratamento que pode ser indicado em alguns casos, é a realização de um procedimento cirúrgico com o objetivo de favorecer a ovulação. Nesse caso é realizado cirurgia ovariana laparoscópica, a fim de realizar microcauterizações (pequenos “furos”) na superfície ovariana.
E ainda, existem outros possíveis tratamentos com a utilização de técnicas de reprodução assistida, como a Inseminação Artificial e a Fertilização in vitro.
A SOP é comum a muitas mulheres e você não precisa desistir da maternidade por isso. Existem tratamentos que podem ajudar você a realizar o sonho de ser mãe.
O tratamento adequado melhora a qualidade de vida de todas as pacientes, não apenas das que desejam engravidar. Por isso, seja qual for o seu caso, tendo sido já diagnosticada ou se está apenas percebendo os sintomas, comece agora mesmo a mudar seu estilo de vida. Adote hábitos mais saudáveis e procure um médico de confiança para agendar uma consulta.
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